segunda-feira, 29 de março de 2010

Autoajuda em depressão

O segmento de livros destinado a animar e a motivar deixou de ser o motor do mercado. A hora é dos contadores de história

"Tenha sonhos menores" ou "Contente-se com menos, bem menos" seriam títulos adequados para a atual fase do mercado de livros de autoajuda. Eles passam por um momento de vendas um tanto deprimidas, em comparação com a esfuziante metade da década, de seguidas tiragens na casa dos milhões e confiança inabalável a respeito do próximo sucesso. O reinado da autoajuda ganhou um concorrente sério no final dos anos 90, após o lançamento do primeiro volume da série Harry Potter. Em 2009, ocorreu a virada. Bruxos e vampiros tomaram a tarefa de liderar o crescimento do mercado editorial no Brasil.
A maioria das editoras e livrarias contava com a autoajuda como principal força para engordar esse número. A confiança nas fórmulas fáceis de incentivo tinha bons motivos para existir. Sucessos como O segredo (2007) e o monge e o executivo (2004) venderam respectivamente, mais de 1,8 milhão e 2,3 milhões de exemplares desde o lançamento. No ano passado, algo mudou.
O segmento de autoajuda fechou 2009 com um humilde sexto lugar em crescimento, atrás de títulos infantojuvenis, ficção, ciências humanas e sociais, literatura e religião (as livrarias diferenciam "ficção", as obras de autores não consagrados, da "literatura", produzida por autores renomados).
Mas a hipótese mais defendida para explicar a perda de ânimo com a autoajuda ainda é a mais simples: saturação. Nos últimos anos, viu-se uma correria das editoras para esse gênero. O que se vê agora é uma ressaca, por causa da oferta excessiva de títulos. A abundância de títulos com propostas similares teria cansado o leitor. Depois do terceiro volume, o leitor te a sensação de dejá-vu, de que é tudo igual.
Outra explicação possível é a infidelidade do leitor de autoajuda. Não há pesquisas amparando essa hipótese, mas alguns empresários acreditam que quem gosta de nomes da literatura - como José Saramago ou João Ubaldo Ribeiro - tende a procurar novas obras deles sempre que possível. A autoajuda atenderia a uma necessidade momentânea, como uma crise sentimental ou profissional.
O mercado editorial convive bem com a alternância de modas. Era natural que a autoajuda, em algum momento, perdesse espaço para outro fenômeno. Isso não quer dizer que ela nunca volte ao topo ou que tenha virado mau negócio. Quer dizer, apenas, que o segmento terá de se contentar, por enquanto, com uma posição mais humilde.

Fonte: Revista Época 22 de março de 2010

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